Você já foi ao Museu dos Óculos?

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Nem todo mundo é consciente da importância que eles têm na formação da imagem. Podem ser discretos ou chamativos, mas como regra geral, devem ser usados para complementar a imagem que se deseja passar, em harmonia com o estilo e a necessidade de uso. Agora o que quase ninguém sabe é que através deles podemos entender um pouco sobre a sociedade: seus costumes, crenças e ideologias.

Esse é sem dúvida um dos museus mais diferentes da Pauliceia. Fica no bairro da Bela Vista, no piso superior de um casarão datado de 1918. Trata-se de uma coleção particular que virou exposição permanente e o único museu dedicado ao assunto da América Latina.

O colecionador é um capítulo a parte, muito conhecido entre as celebridades por fazer milagres. Foi ele quem ajudou a deixar o Maluf menos arrogante e o Delfim Neto, mais simpático. No primeiro caso, tirou os óculos pesadões e grandes e os substituiu por um modelo leve e discreto. No segundo, aliviou o centro de expressão do político sem descaracterizar sua imagem. Foi ele também que ajudou a trazer equilíbrio para o rosto do Lula e personalidade para o rosto de vários artistas, como Daniela Mercury, José Wilker e Jô Soares.

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Miguel Giannini, conhecido como o maior esteta ótico do Brasil, decidiu expor a sua coleção de óculos depois de adquirir esse imóvel da Bela Vista. E assim, nasceu esse museu que é uma verdadeira viagem de séculos pela história.

O modelo mais antigo da coleção é uma peça de madeira da China, usada pela aristocracia, 500 a.C. Como o grau ainda não havia sido descoberto, a peça só era usada como acessório. Demonstrava poder e riqueza e só as castas superiores tinham direito ao uso. Às pessoas do povo, óculos só em três situações: para diferenciar os portadores de doenças mentais e neurológicas, afastar maus espíritos e aplacar dores de cabeça.

O segundo modelo mais antigo da coleção foi descoberto na cidade alemã de Nuremberg, no século XIII. É um modelo de ferro, pesado e feio, usado como lente de aumento pela aristocracia europeia e alguns membros da igreja. No museu, há também uma série curiosa de pince-nêz do final do século XIII. São modelos leves, criados para serem fixados na ponta do nariz.

Contemporâneo do pince-nêz, o Lorgnon tem como característica uma haste lateral de comprimento variável de acordo com o estado civil do homem: solteiros (7 cm) e casados (4 cm). Não preciso mencionar que nessa época, os óculos ainda são de uso exclusivo masculino. Louco, né?!

No século XIX, apesar dos vários modelos existentes, o preconceito contra o uso dos óculos ainda era grande. E na coleção do Miguel há um modelo de óculos que retrata essa necessidade em disfarçar o seu uso. A peça, encomendada pelas mulheres ricas da época, lembra muito mais um leque e de forma bem discreta, esconde uma lente no final da haste. Os óculos ainda causavam repulsa e constrangimento.

A verdade é que até algumas dezenas de anos atrás, eles ainda eram considerados uma prótese, usados para aliviar um defeito físico. Somente na década de 30, seu uso mudou. As armações leves e elegantes com aros para perto e para longe introduziram um novo conceito consolidado nos anos 70, com armações ainda mais leves e coloridas. Passaram então a compor o uniforme dos jovens contestadores da ditadura até se converteram em tendência absoluta, presente em todos os desfiles de moda.

Hoje, os óculos fazem parte da personalidade do indivíduo e chegam a ser tão pessoais que em alguns casos conseguimos identificar o par de olhos por trás deles. É o caso dos óculos da Rita Lee. Ela é cliente do próprio colecionador e seus óculos estão no museu, assim como os de várias personalidades brasileiras também atendidas por ele. É ver pra crer!

Museu dos Óculos Gioconda Giannini: Rua dos Ingleses, 108 – Bela Vista, São Paulo (SP) / 11 3149-4000. Horário: De segunda a sexta, de 9h às 18h e sábado, de 9h às 13h. Gratuito.

Matéria publicada no São Paulo Times, dia 17.07.14.

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